domingo, 11 de março de 2012

Refém do esquema

Uma das tarefas mais difíceis para um treinador de futebol é encaixar o esquema tático que pretende usar com a característica dos jogadores que tem à disposição. É necessário paciência para experimentar, testar e inovar sem tempo suficiente para treinamentos e compromisso com resultados em curto prazo. E quando não se conhece completamente o grupo de jogadores, não há outra solução a não ser recorrer à fórmula tentativa X erro.

A prova desta verdade pode ser vista nos jogos da dupla Ba-Vi nesta rodada. Enquanto no Armando Oliveira Cerezo finalmente conseguiu encaixar o sistema que queria com as características dos jogadores que escalou, em Pituaçu Falcão via sua receita de bolo desandar por não encontrar os substitutos capazes de fazer o sistema que lhe agrada funcionar.
Finalmente o 4-2-3-1 de Cerezo deu liga. Familaridade de Giovanni e Ken com movimentação do esquema facilitou encaixe

Após muitos jogos insistindo com Lúcio Flávio e Arthur Maia como companheiros de Marquinhos numa linha de três meias, Cerezo resolveu tentar aquilo que até as cozinheiras da Toca do Leão sabiam: Para o 4-2-3-1 do treinador mineiro funcionar, Giovanni deveria ser titular. Afinal, o veterano conhece a posição de meia aberto [ou central] desde o tempo em que jogou na Europa. E foi jogando desta maneira que conseguiu suas melhores atuações desde que chegou a Bahia. Com Michel e Uelliton como volantes marcadores – e portanto com menores obrigações defensivas para os meias – Marquinhos [depois Mineiro] na esquerda, Pedro Ken pela direita e Giovanni por dentro, finalmente o meio campo rubro-negro teve posse de bola e volume ofensivo. Com Neto Baiano na referência sem precisar sair pra buscar o jogo, finalmente o encaixe aconteceu. Era tão óbvio que é  lamentável a demora do técnico em perceber algo tão evidente.

Em Pituaçu, o reverso da moeda. Se o 4-2-2-2 de Falcão se mostrava simbiótico com a forma do Bahia atuar, a falta de algumas peças desmontaram a máquina tricolor. Isto porque os jogadores que atuaram hoje não foram capazes de manter a dinâmica de jogo proposta pelo esquema. Diones foi demasiadamente tímido na saída para o jogo o que obrigava Fahel a tentar fazê-lo – sem possuir qualidade para tanto. Júnior manteve sua sequência de péssimas atuações, sendo incapaz de executar o pivô no ataque com a eficiência que Souza emprega e Filipe não adaptou-se à nova posição de meia aberto pela esquerda, sem dar fluidez às jogadas.
Meio campo inócuo na primeira etapa pela falta de chegada dos volantes e pouca  participação dos meias.

Como o ataque não conseguia segurar a bola, o meio não trabalhava a posse e a transição ofensiva ficou lenta, o Juazeiro conseguiu acertar a marcação e anular as opções de jogo do Bahia. Marcando na frente durante a primeira etapa, o time da carranca diminuiu bem os espaços, e bloqueava as subidas de Madson com o bom ala esquerdo Neílson. Do outro lado William Matheus tinha espaço, mas não conseguia produzir algo relevante.

Na volta do intervalo Falcão tentou corrigir a equipe colocando Morais em lugar de Filipe, e o time voltou com a escalação que, imaginava eu, seria o onze inicial. Logo Magno saiu da meia direita – onde atuou pouco à vontade na etapa inicial – e foi para esquerda [também aberto]. Morais centralizou e Madson avançou mais pela direita. Diones atuou mais preso ainda para compensar as subidas do lateral.

E por ali o Bahia poderia até ter conseguido o gol, mesmo sem merecimento. O Juazeiro continuou atuando inteligentemente, explorando os seguidos erros de passe do Esquadrão e mesmo marcando mais atrás, sempre oferecia algum perigo nos contra ataques.

A substituição do ataque era iminente. Péssima atuação da dupla Ciro/Júnior que não costuma ir tão mal quando joga com Souza. A prova irrefutável que o Caveirão é, além de referência tática, referência técnica no atual time. Vander foi atuar no ataque e novamente decepcionou. Testado em praticamente todas as posição do meio para frente esse ano, desde Joel, não consegue dar objetividade ao time e está longe da eficiência que tinha na série B 2010.

Eficiência que é a marca de Rafael Gladiador. Com poucas chances esse ano, o centroavante destaque da Copa SP 2011 já marcou três vezes. É verdade que precisa amadurecer tecnicamente, mas merece mais chances na equipe principal. É oportunista, sabe se colocar na área e tem estrela. Deveria ser o reserva imediato de Souza, na minha opinião.

Com todas modificações o Bahia pouco melhorou. Se com Morais a troca de passes aumentou, a infiltração e triangulações continuaram nulas. Nem Magno pela esquerda, nem Vander se aproximavam de Rafael e o time pouco produzia. Os laterais começaram a subir simultaneamente e os espaços para o contra ataque juazeirense ficaram maiores.
Equipe manteve esquema e ineficiência. Espaços na defesa, pouca intensidade e troca de passes na frente. Oportunismo de Rafael salvou derrota

O gol interiorano poderia ter surgido antes não fosse Rafael Donato que com velocidade e excelente tempo de bola abafou jogada onde estava sozinho contra dois atacantes. Fahel na cobertura ajudou a afastar o perigo. Em outra resposta rápida do Juazeiro, não houve escapatória. Neílson arranca, passa pela cobertura de Diones e avança. Titi vacila, recua e não dá o bote. Com espaço, o ala arrisca o chute e conta com o desvio em Donato para vencer Omar.

Faltando apenas dez minutos para o fim do jogo e com uma atuação medíocre, era difícil acreditar que a invencibilidade de Falcão no comando tricolor não pereceria. Como último recurso, Donato avança à área adversária para tentar o “doble-nove”. A tática - usada pelo Barça com Piqué e pelo Vasco com Dedé - consiste em tornar um zagueiro homem de área para conseguir vantagem numérica e física dentro da grande área. Em centro pela esquerda de  William Matheus, Donato não alcança [e pede pênalti] mas Rafael desvia com consciência do goleiro, empatando o jogo a quatro minutos do final.

O Bahia seguiu tentando a virada no abafa, sem sucesso. Não merecia pelo que produziu. O jogo serviu para expor as dificuldade que Falcão terá quando não tiver jogadores fundamentais para o esquema, como Souza e Gabriel. É bom ter um plano B. Um outro esquema que permita aos substitutos renderem mais.

A rodada de hoje colocou um pouquinho de tempero num Ba-Vi sem muitos atrativos no próximo domingo. Com os esquemas preferidos de seus treinadores encaixados, um embate entre o  Vitória de hoje e o Bahia de duas rodadas atrás, o jogo promete.

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