segunda-feira, 2 de abril de 2012

Treino de luxo

Em entrevista durante a semana o técnico Mano Menezes afirmou, ironicamente, que caso utilizasse os estaduais como parâmetro para convocação, o ataque da seleção seria Souza e Neto Baiano. A declaração revela - além de uma miopia com Nordeste explicitada pela não inclusão dos Gabriéis da dupla Ba-Vi na pré-lista olímpica - o desprezo justificado aos estaduais pelo baixo nível técnico das competições. Pena que tal argumento não seja aplicado ao decrépito campeonato ucraniano.


Finalmente Ciro aproveitou a chance dada pro Falcão
Diferente do comandante canarinho que não precisa acompanhar o Baianão 2012, há quem o faça com gosto - caso deste escriba. Só um certo sadismo para justificar acompanhar in loco um confronto entre o já classificado e desfalcado Bahia e o medíocre Serrano com opções mais atraentes para um domingo ensolarado.


E os primeiros 20 minutos de jogo deram a falsa impressão de que tinha feito a opção correta. Falcão armou o Bahia num 4-2-3-1 interessante com Zé Roberto como armador central, Gabriel pela direita e Lulinha pela esquerda com Ciro  a frente, sem estar preso a referência. Com Lenine e Diones como volantes fechando bem os espaços, chegando a frente e trocando passes verticais, o tricolor imprimiu velocidade e impôs sua melhor qualidade técnica aproveitando os generosos espaços concedidos pela equipe conquistense. 


Bira Veiga, comandante da equipe interiorana, surpreendeu na última hora ao escalar seu time no 3-5-2, promovendo a entrada do zagueiro Williames. Talvez querendo explorar o corredor lateral onde até os ambulantes de Pituaçu sabem que o  Bahia tem dificuldades na marcação. Na prática entretanto, a estratégia expôs defensivamente sua equipe. Com muitos espaços entre os zagueiros e volantes, foi fácil para o quarteto ofensivo do esquadrão envolver os defensores adversários. A movimentação de Ciro deixava os zagueiros perdidos e a transição ofensiva comandada por Gabriel - melhor dos meias novamente - era veloz e objetiva.
Com Gabriel comandando o meio Bahia liquidou o jogo em 20 minutos. Destaque para a movimentação de Ciro, abrindo espaços na mal postada defesa do Serrano


Duas assistências de Gabriel, dois gols de Ciro e outro de Coelho em cobrança de penalti sofrido após infiltração de Lenine - em boa atuação do amazonense - definiram o jogo muito cedo. A facilidade aliada ao desentrosamento e a pouca aplicação de alguns jogadores fizeram o líder do campeonato arrefecer demais. O Serrano adiantou as linhas e passou a incomodar especialmente pela ala esquerda, onde Daniel aproveitava as subidas de Coelho.


A partir daí começou o show de horrores protagonizado pelo trio de arbitragem e pela defesa tricolor. Foram cinco penalidades distribuídas entre Coelho, William Matheus, Danny Moraes e Rafael Donato entre marcadas, não marcadas, anuladas  e confirmada. Detesto falar do assoprador de apito mas o que tal Carigé fez ontem está muito abaixo até do inclassificável nível dos apitadores baianos.


O lateral esquerdo do Bahia segue perdido no posicionamento defensivo. No primeiro gol do Serrano não adiantou para o bote e nem fechou pelo lado oposto, dando espaço a dois atacantes adversários. Houvesse mais qualidade na armação das jogadas, menos passes errados e uma arbitragem mais criteriosa o time do interior teria vazado a meta tricolor mais vezes, face a tarde desastrosa da retaguarda tricolor.


Finalmente na segunda etapa Bira Veiga percebeu que precisava reposicionar sua equipe para aumentar seu volume de jogo. Com e entrada de um meia no lugar do zagueiro Williames,  passou para o 4-4-2 e chegou a equilibrar a posse de bola em certos momentos, devido a queda da força ofensiva do Bahia muito em função da má jornada de Zé Roberto - que pouco produziu como armador central - e de Lulinha pouco à vontade pelo lado esquerdo. 
Serrano migra para o 4-4-2 e equilibra a equipe. Bahia sofre com a pouca inspiração de Zé Roberto e Lenine passa a organizar o time.


É compreensível a busca de Falcão de opções para o esquema. É hora de mexer no elenco e testar. Isso explica as entradas de Madson e Gutierrez. Com dois jogadores abertos para puxar o contra ataque, a equipe era comandada por Lenine que assumiu a função de organizador com as saídas de Gabriel, Lulinha e  a apatia de Zé Roberto O rendimento, lógico, caiu.


A primeira meta de Falcão - o primeiro lugar na fase - foi conquistado com tranquilidade. Resta recuperar jogadores para o elenco [Ciro, Vander] e dar ritmo a outras opções [Gutierrez, Lulinha]. Utilizar como treino de luxo os três últimos jogos da fase. Entretanto, é preciso apenas estar mais focado. Manter a concentração para entrar na fase final com força total.



segunda-feira, 26 de março de 2012

A mensagem do Profeta

Profeta não fazia rir mas fazia pensar
Dentre os 209 personagens que Chico Anysio deu vida, um não tinha como principal objetivo fazer graça. Jesuíno, O Profeta, era encarregado de encerrar os programas do humorista e sempre levava uma mensagem reflexiva, e passava uma imagem meio messiânica falando em tom patriarcal. Entretanto, quem foi a Pituaçu torcer pelo Bahia no confronto contra o Itabuna, saiu mais alegre que pensativo com a atuação do Profeta tricolor.

Souza – que na homenagem que o Bahia prestou ao humorista levou às costas o nome do personagem – destacou-se pelos quatro primeiros gols marcados, a assistência para o tento de Júnior e pela movimentação característica de um autêntico nove. Pela primeira vez com Falcão, o Bahia esteve postado no 4-2-3-1 de início – reforçando a suspeita do blogueiro que esse deva ser o esquema principal do time com os principais jogadores do elenco à disposição. Com Zé Roberto finalmente liberado para atuar desde o primeiro clássico do ano, o técnico lançou um posicionamento diferente do utilizado naquela ocasião. Alinhado com Magno pelo centro e Jones pela direita, Zé atuou com liberdade para infiltrar no ataque, movimentar-se pelo meio e sem preocupar-se com recomposição defensiva. Como atuava em Porto Alegre.
Formação inicial no 4-2-3-1 com Jones na direita. Inversão ocorreu aos 25 do primeiro tempo

Contando com o bom posicionamento e inspiração de Souza o Bahia tranquilizou a peleja logo no início, abrindo boa vantagem de dois gols. O carioca conhece bem a posição, faz o pivô com maestria permitindo aproximação dos meias e dando opções de passe.Não é como parece um jogador parado. Mas precisa da chegada dos jogadores de trás.
Meias com "pés invertidos" abrem corredor para os laterais apoiarem. Zé Roberto já atuou desta forma no Botafogo.

Interessante também foi a inversão de lado entre os meias extremos, com Jones passando para esquerda e Zé Roberto para direita. Esse posicionamento de meia com pés invertidos facilita a infiltração diagonal e abre espaço para o avanço dos laterais. Como o Itabuna não agredia, Madson e Matheus puderam subir com tranquilidade ainda que apenas o primeiro produzisse algo. Em contrapartida, como o 10 tricolor não acompanhava o ala esquerdo interiorano, algumas vezes o flanco ficou desprotegido o que obrigou Rafael Donato a sair para cobertura, mas sem maiores preocupações.
A fragilidade itabunense acomodou o tricolor e foi possível observar a insatisfação de Falcão antes do fim da primeira etapa. Chamou a atenção de Fahel e Lenine – que deveriam fechar mais o meio e encostar no trio de armação -  e orientou Jones, que esteve longe de encantar tecnicamente mas foi aplicado e cumpriu bem sua função tática.

Como diversas vezes neste campeonato, o Esquadrão voltou para a segunda etapa disposto a liquidar o jogo antes dos 15 minutos finais. E assim o fez. Com Magno mais objetivo, distribuindo bem o jogo e movimentando-se com fluidez, as boas combinações ofensivas demoliram qualquer possibilidade de alteração do cenário do jogo. A partir daí, os gols se sucederam e Falcão pode dar ritmo a jogadores como Lulinha e Coelho que serão fundamentais para a sequência da temporada.
Formação final no tradicional 4-2-2-2 com Lulinha na meia direita. Boa alternativa  para ausência de Gabriel.

Com a entrada de Junior, o Bahia voltou ao 4-2-2-2 predominante este ano. Com Souza mais desgastado, o diabo loiro passou a ser a referência e o Caveirão passou a atuar mais estático, distribuindo o jogo. Lenine passou a chegar mais ao ataque e após acertar uma bola no travessão pôde marcar também seu gol num dos lances finais da partida.

Num embate fácil, que mostrou a diferença técnica entre as agremiações, ficou a certeza que o Bahia caminha para encontrar outra alternativa de jogo – algo que faltou nas últimas rodadas. Assim como pregava o Profeta de Chico City, a mensagem que ficou  para o futuro tricolor foi de esperança e otimismo.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Futuro do pretérito

Marcelo, Patrício [Marcone], Alison, Nen e Rubens Cardoso; Leandro, Élton, Ananias e Hélton Luiz [Léo Medeiros]; Beto e Reinaldo Alagoano. Não, esse time não ganhou nada e tampouco deixou alguma saudade na torcida. Mas essa equipe – comandada por Alexandre Gallo – ficou 12 partidas invictas no campeonato baiano de 2009 com 11 triunfos consecutivos. O que isso quer dizer? Aparentemente nada. Mas pode servir de [mau] exemplo ao Bahia de hoje.

A equipe de Gallo encontrou um “encaixe” muito rápido. A partir da segunda partida desandou a fazer gols e acumular grandes atuações. Marcelo virou paredão, Alison e Nen intransponíveis, Élton um volante com qualidade acima da média, Hélton Luiz o xodó e Reinaldp Alagoano o “matador” com o chapéu de pescador da Bamor. Nessa sequência citada acima, um triunfo inconteste de 2 X 0 em pleno Barradão e o início de uma nova era com Pituaço – o caldeirão recém inaugurado.

O final dessa história amigos, todos sabemos. Alison machuca seriamente e o Bahia perde a melhor bola parada e o zagueiro de melhor saída pro jogo. Marcelo, Élton e Rubens Cardoso começam a conviver com problemas físicos e caem de produção. Hélton Luiz mascara de vez e todos descobrem que não passava de um enganador. O ataque Beto – Reinaldo Alagoano se reveza entre caneladas e atuações pífias. A carruagem vira abóbora.

Sem comparar a qualidade dos jogadores nem a competência dos treinadores há muita similaridade entre as situações de 2009 e hoje. O rival tinha um meia experiente e eficiente na bola parada que brilhava nos clássicos [Ramon/Geovanni] e um artilheiro falastrão e caneludo fazedor de gols [Neto Baiano]. Do time atual tinha também Victor Ramos e Uelliton [que não era titular]. Depois da arrancada, o Bahia conseguiu perder a vantagem na reta final com derrotas para Ipitanga e Madre De Deus e deixou a taça mais uma vez no Barradão.

Esse é o temor – não admitido, porém sentido – de boa parte da torcida após as três últimas apresentações do Esquadrão. Vantagem que poderia ser de dez pontos por pouco não virou um [bendita trave] em apenas três rodadas. Cinco das seis últimas decisões entre os rivais foram vencidas na filigrana do regulamento. Falcão já declarou estar ciente. É preciso admoestar o elenco.

Aprender com o passado significa compreender o que começou a dar errado. Quando o “encaixe” acontece muito rápido pode ocasionar essa dificuldade em localizar a raiz do problema. Experimentar em excesso, inverter critérios e apostar em falso implica num retrocesso que pode custar caro. É preciso serenidade.

Tá bom, Lenine foi mal no clássico. Mas voltar com a dupla Fahel-Fabinho é tirar a teia de aranha da prancheta de Joel. Nenhum dos dois encosta com qualidade na frente e sai pro jogo com velocidade. Com os laterais titulares fora, a bola pouco chega ao ataque, pois os meias recuam muito pra buscar o jogo. Sobrecarregados precisam sair de marcação dupla até a área adversária. Ou não rendem, ou se desgastam como aconteceu com Gabriel no domingo.

Fica de olho aberto, Falcão
Tenho pedido insistentemente a saída de Júnior do time. Não participa bem do jogo, segura pouco a defesa adversária e se movimenta com lentidão. Entretanto tem presença de área e finaliza muito, o que é fundamental nestes pastos do interior – onde chuveirar é a melhor solução. Manter ele no Barradão e tirar do jogo de ontem não foi muito coerente. E com Ciro cada vez pior, a camisa 11 parece reservada a Zé Roberto.

A vitória contra o ECPP foi umas das maiores injustiças que já vi em campos baianos. Em que pese a substancial melhora após a entrada de Jones – imaginem! – o Bahia foi medonho. A defesa foi ridícula com o lado esquerdo inexistente e o miolo de zaga frágil. A vitória veio numa improvável subida de Fabinho ao ataque, com o suporte de Jones e o oportunismo de Souza.

Para tentar chegar ao triunfo Falcão demorou a tirar o improdutivo  Magno pra configurar um 4-3-3 da base alta. Com Fahel mais preso Madson teve liberdade para subir, porém jogada decisiva saiu dos pés de Fabinho.
Para retomar o padrão de jogo é preciso soluções para os problemas que ficaram evidentes no Ba X Vi, porém sem desprezar os avanços do trabalho já realizado. Olhar o passado recente não para amedrontar-se, mas para não repetir as mesmas falhas. Basta ter discernimento e estrela. Esta última, como vimos ontem, tá em dia.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Não muda nada. Ou muda?

Último lance do primeiro tempo. Com a bola posicionada para cobrar o tiro livre direto, Giovanni se agacha e, muito concentrado, fala algumas palavras. A cobrança, um minuto depois, sai tão perfeita que bate no travessão antes de entrar. Seria o gol decisivo do clássico que premiaria não apenas a melhor atuação do camisa 10 rubro-negro, como de toda equipe comandada por Cerezo.

É uma leviandade considerar que o jogo foi definido nos erros da péssima arbitragem de Lopo Garrido ou determinado pela má atuação técnica da defesa tricolor. É necessário valorizar o ótimo plano de jogo dos rubro-negros. E principalmente a concentração e capacidade de execução desse plano.

Já havia alertado para o encaixe do 4-2-3-1 com Giovanni de meia central, com Michel e Ueliton como volantes. Sim, porque os volantes tem um papel fundamental nessa dinâmica de jogo, não apenas no combate aos adversários, mas também na saída de bola qualificada e fechando espaços para que os meias não recuem para buscar o jogo.
Com Marquinhos inicialmente aberto à esquerda e Pedro Ken na direita, o Vitória ditou o ritmo durante quase todo o jogo. Acelerou quando quis e cadenciou quando achou necessário. Iniciou o jogo de forma intensa, explorando o corredor esquerdo da defesa tricolor – expediente usado durante todo o jogo – obrigou Fahel a abrir para ajudar Matheus, o que permitiu liberdade generosa para a movimentação de Giovanni e companhia.
Movimentação e inversões no meio fizeram rubro-negro dominar o setor. Liberdade a Nino permitiu subida do lateral e desequilibrou a defesa.

A defesa tricolor não encontrou a fórmula de anular para movimentação do trio ofensivo do adversário. Marcando por zona e com o lateral esquerdo acuado pelas subidas de Nino – que não tinha ninguém a lhe acompanhar – a última linha se perdia nas coberturas e compensações para cobrir os espaços. No primeiro gol, Fahel sai para cobrir com Titi mal posicionado e Rafael Donato perdido. Devia ser ele na marcação de Neto e não Madson [que deveria ficar na sobra por dentro] o que facilitou a conclusão do artilheiro. Lomba, visivelmente sem ritmo, também perdeu o tempo de bola.

A partir dali a equipe mandante percebeu qual seria o caminho mais simples para pressionar o adversário. Lateralizou as ações ofensivas e forçou a jogada aérea. Lenine e Fahel não conseguiam sair pro jogo o que obrigava Gabriel a recuar para armar a partir de trás da linha de meio, diminuindo sua efetividade como a principal peça de transição ofensiva.

Dessa forma o Vitória abriu uma vantagem de dois gols rapidamente e caminhava para controlar a contenda quando, adiantando um pouco a marcação no meio, o tricolor diminuiu o espaço entre os setores e chegou bem ofensivamente. Com a qualidade de Gabriel, o Bahia construiu os dois tentos que recuperaram a igualdade no placar e teve as rédeas do jogo por SETE minutos. Isso mesmo. Durante sete minutos o Bahia dominou e teve chances de até virar o placar. Mas o Vitória recuperou o fôlego, impôs seu ritmo novamente e voltou a dominar a meia cancha.

Falcão – após muito mistério – optou por manter o Bahia no usual 4-2-2-2 com Júnior e Souza na frente, revezando-se na referência e movimentação. Isso obrigou Souza a sair muito da área  e o tricolor perdeu a jogada de pivô que permitia os meias chegarem com espaço para infiltração. Com Júnior nulo em campo, o volume ofensivo caiu drasticamente e a desvantagem numérica no meio oferecia espaço aos volantes do Vitória para iniciar a saída de bola com tranquilidade, facilitando o trabalho dos jogadores do meio.

Com os volantes presos e os laterais inócuos – Madson tímido no apoio e Matheus acuado por Nino – a saída do Bahia se resumia ao trabalho de Gabriel e Morais. O camisa dez tricolor sem a intensidade que o jogo pedia e o garoto tricolor novamente em grande jornada se desdobrando para armar o jogo e chegar ao ataque. Ainda assim, muito pouco para assumir o controle da partida.
Mudanças na segunda etapa não alteraram panorama do jogo. Tricolor seguiu sem forças nas laterais e dominado no meio. Única mudança foi inversão de Marquinhos, depois Rildo, de lado com Pedro Ken.

Com a vantagem no placar o Vitória voltou para o segundo tempo para explorar a vantagem com inteligência. Inverteu o posicionamento de Marquinhos e Ken, para explorar a fragilidade de Matheus na marcação. Falcão finalmente tirou Júnior porém manteve o esquema com Rafael Gladiador no ataque. As entradas de Ávine e Magno também mantiveram o sistema. Mas a saída de Gabriel – com cansaço muscular - praticamente minou qualquer chance de mudança no panorama do jogo. Cerezo também fez trocas pontuais, sem abrir mão do esquema vitorioso.

Venceu quem soube controlar o meio com movimentação e técnica,  impôs o ritmo que lhe convinha e manteve-se focado para executar com perfeição o sistema de jogo. Cerezo sai fortalecido após fase turbulenta, ciente que encontrou a equipe mais adequada ao momento. Falcão precisará ajustar um novo sistema ao bom padrão que deu ao time, qualificando as laterais, fortalecendo o meio ou encontrando outro parceiro de ataque pra Souza.

E um Ba X Vi que não mudou nada no campeonato, sinaliza outras mudanças para o futuro.


sábado, 17 de março de 2012

Em nome da tradição

Em um Ba-Vi desinteressante para classificação do campeonato e cercado de mistério nas escalações, o mais difícil foi falar dos aspectos relacionados exclusivamente ao jogo. Com tanta celeuma fora das quatro linhas, pouco espaço tem sido destinado ao que realmente importa,  - na opinião deste blogueiro - os aspectos técnicos e táticos do confronto.


Apesar disso, arriscarei o pré-jogo. Com treinos secretos e algumas interrogações nas escalações apostarei no bom senso dos treinadores. No jogo do primeiro turno me dei mal na previsão, sendo surpreendido pela postura rubro-negra.


Para o jogo do Manoel Barradas acredito que a chance de acertar a escalação de Cerezo é alta. Após finalmente encaixar os jogadores certos para o seu 4-2-3-1, acho improvável a entrada de alguém para modificar a forma de atuar da equipe. Dessa forma repete-se a formação do jogo contra o Camaçari. Como o tricolor possui mais qualidade no meio que o time do Pólo,  o Leão deve atuar num 4-2-3-1 mais "torto", com Pedro Ken recompondo mais o meio para conter a participação de Ávine. Em certos momentos, o meio irá variar para um losango. Ueliton deve atuar como volante pela esquerda, contendo Gabriel e aparecendo para saída de jogo.


O Bahia deve apostar nas combinações laterais. Falcão ainda procura um jogador capaz de repetir pela esquerda a movimentação de Gabriel pela direita. Magno rende mais centralizado e por ali, deve atuar Morais.


Como Marquinhos joga um pouco mais adiantado na linha de três, Madson deve conter um pouco o apoio - ainda que Lenine deva cair no setor para ajudá-lo. Pela esquerda Matheus deve ter mais liberdade se Ken não atuar aberto. A não ser que Cerezo surpreenda de novo e inverta Marquinhos e Pedro Ken. Pouco provável.
Equipes no mesmo sistema [4-2-3-1] com confrontos bem definidos . Devem futebol do primeiro clássico para resgatar tradição


Souza e Neto terão a missão de servir de referência e segurar os zagueiros até a aproximação do meio. Os laterais não deverão apoiar simultaneamente para evitar que os zagueiros saiam na cobertura e deixem os centroavantes no mano a mano.


Os meias centrais [Morais e Geovanni] jogarão encaixotados pelos volantes adversários. Daí a importância dos outros meias para puxar a marcação e abrir espaço no meio.
Com as equipes no mesmo sistema de jogo, fatalmente prevalecerá quem  vencer os confrontos individuais. A atuação dos meias, mais que nunca, será fundamental.


Espero que dentro das quatro linhas o jogo seja menos conturbado que fora. E que as equipes finalmente mostrem um futebol digno da tradição de 80 anos do maior clássico do Norte Nordeste.

domingo, 11 de março de 2012

Refém do esquema

Uma das tarefas mais difíceis para um treinador de futebol é encaixar o esquema tático que pretende usar com a característica dos jogadores que tem à disposição. É necessário paciência para experimentar, testar e inovar sem tempo suficiente para treinamentos e compromisso com resultados em curto prazo. E quando não se conhece completamente o grupo de jogadores, não há outra solução a não ser recorrer à fórmula tentativa X erro.

A prova desta verdade pode ser vista nos jogos da dupla Ba-Vi nesta rodada. Enquanto no Armando Oliveira Cerezo finalmente conseguiu encaixar o sistema que queria com as características dos jogadores que escalou, em Pituaçu Falcão via sua receita de bolo desandar por não encontrar os substitutos capazes de fazer o sistema que lhe agrada funcionar.
Finalmente o 4-2-3-1 de Cerezo deu liga. Familaridade de Giovanni e Ken com movimentação do esquema facilitou encaixe

Após muitos jogos insistindo com Lúcio Flávio e Arthur Maia como companheiros de Marquinhos numa linha de três meias, Cerezo resolveu tentar aquilo que até as cozinheiras da Toca do Leão sabiam: Para o 4-2-3-1 do treinador mineiro funcionar, Giovanni deveria ser titular. Afinal, o veterano conhece a posição de meia aberto [ou central] desde o tempo em que jogou na Europa. E foi jogando desta maneira que conseguiu suas melhores atuações desde que chegou a Bahia. Com Michel e Uelliton como volantes marcadores – e portanto com menores obrigações defensivas para os meias – Marquinhos [depois Mineiro] na esquerda, Pedro Ken pela direita e Giovanni por dentro, finalmente o meio campo rubro-negro teve posse de bola e volume ofensivo. Com Neto Baiano na referência sem precisar sair pra buscar o jogo, finalmente o encaixe aconteceu. Era tão óbvio que é  lamentável a demora do técnico em perceber algo tão evidente.

Em Pituaçu, o reverso da moeda. Se o 4-2-2-2 de Falcão se mostrava simbiótico com a forma do Bahia atuar, a falta de algumas peças desmontaram a máquina tricolor. Isto porque os jogadores que atuaram hoje não foram capazes de manter a dinâmica de jogo proposta pelo esquema. Diones foi demasiadamente tímido na saída para o jogo o que obrigava Fahel a tentar fazê-lo – sem possuir qualidade para tanto. Júnior manteve sua sequência de péssimas atuações, sendo incapaz de executar o pivô no ataque com a eficiência que Souza emprega e Filipe não adaptou-se à nova posição de meia aberto pela esquerda, sem dar fluidez às jogadas.
Meio campo inócuo na primeira etapa pela falta de chegada dos volantes e pouca  participação dos meias.

Como o ataque não conseguia segurar a bola, o meio não trabalhava a posse e a transição ofensiva ficou lenta, o Juazeiro conseguiu acertar a marcação e anular as opções de jogo do Bahia. Marcando na frente durante a primeira etapa, o time da carranca diminuiu bem os espaços, e bloqueava as subidas de Madson com o bom ala esquerdo Neílson. Do outro lado William Matheus tinha espaço, mas não conseguia produzir algo relevante.

Na volta do intervalo Falcão tentou corrigir a equipe colocando Morais em lugar de Filipe, e o time voltou com a escalação que, imaginava eu, seria o onze inicial. Logo Magno saiu da meia direita – onde atuou pouco à vontade na etapa inicial – e foi para esquerda [também aberto]. Morais centralizou e Madson avançou mais pela direita. Diones atuou mais preso ainda para compensar as subidas do lateral.

E por ali o Bahia poderia até ter conseguido o gol, mesmo sem merecimento. O Juazeiro continuou atuando inteligentemente, explorando os seguidos erros de passe do Esquadrão e mesmo marcando mais atrás, sempre oferecia algum perigo nos contra ataques.

A substituição do ataque era iminente. Péssima atuação da dupla Ciro/Júnior que não costuma ir tão mal quando joga com Souza. A prova irrefutável que o Caveirão é, além de referência tática, referência técnica no atual time. Vander foi atuar no ataque e novamente decepcionou. Testado em praticamente todas as posição do meio para frente esse ano, desde Joel, não consegue dar objetividade ao time e está longe da eficiência que tinha na série B 2010.

Eficiência que é a marca de Rafael Gladiador. Com poucas chances esse ano, o centroavante destaque da Copa SP 2011 já marcou três vezes. É verdade que precisa amadurecer tecnicamente, mas merece mais chances na equipe principal. É oportunista, sabe se colocar na área e tem estrela. Deveria ser o reserva imediato de Souza, na minha opinião.

Com todas modificações o Bahia pouco melhorou. Se com Morais a troca de passes aumentou, a infiltração e triangulações continuaram nulas. Nem Magno pela esquerda, nem Vander se aproximavam de Rafael e o time pouco produzia. Os laterais começaram a subir simultaneamente e os espaços para o contra ataque juazeirense ficaram maiores.
Equipe manteve esquema e ineficiência. Espaços na defesa, pouca intensidade e troca de passes na frente. Oportunismo de Rafael salvou derrota

O gol interiorano poderia ter surgido antes não fosse Rafael Donato que com velocidade e excelente tempo de bola abafou jogada onde estava sozinho contra dois atacantes. Fahel na cobertura ajudou a afastar o perigo. Em outra resposta rápida do Juazeiro, não houve escapatória. Neílson arranca, passa pela cobertura de Diones e avança. Titi vacila, recua e não dá o bote. Com espaço, o ala arrisca o chute e conta com o desvio em Donato para vencer Omar.

Faltando apenas dez minutos para o fim do jogo e com uma atuação medíocre, era difícil acreditar que a invencibilidade de Falcão no comando tricolor não pereceria. Como último recurso, Donato avança à área adversária para tentar o “doble-nove”. A tática - usada pelo Barça com Piqué e pelo Vasco com Dedé - consiste em tornar um zagueiro homem de área para conseguir vantagem numérica e física dentro da grande área. Em centro pela esquerda de  William Matheus, Donato não alcança [e pede pênalti] mas Rafael desvia com consciência do goleiro, empatando o jogo a quatro minutos do final.

O Bahia seguiu tentando a virada no abafa, sem sucesso. Não merecia pelo que produziu. O jogo serviu para expor as dificuldade que Falcão terá quando não tiver jogadores fundamentais para o esquema, como Souza e Gabriel. É bom ter um plano B. Um outro esquema que permita aos substitutos renderem mais.

A rodada de hoje colocou um pouquinho de tempero num Ba-Vi sem muitos atrativos no próximo domingo. Com os esquemas preferidos de seus treinadores encaixados, um embate entre o  Vitória de hoje e o Bahia de duas rodadas atrás, o jogo promete.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Futebol sinestésico

A idade é mesmo implacável. Após três décadas vendo muita coisa boa e outras de envergonhar o Criador, senti a visão embaçar. Logo eu, que sempre tive uma memória fotográfica capaz de reconhecer na rua a prima daquela amiga que apareceu na formatura do meu vizinho – apesar da incapacidade de associar o nome à figura – especialmente quando o decote ou a fenda do vestido atrai minha atenção.


Embaçou e como aquele borrão tendia a aumentar, fui à procura do diagnóstico. Astigmatismo. Ainda que em grau leve, o suficiente para me obrigar a usar a maldita muleta visual para as atividades que muito que me aprazem: Ler, escrever e assistir futebol.

E foi assim que me preparei para uma quarta ludopedicamente promissora. Pus as indesejadas lentes apoiadas nas ventas e iniciei a maratona futebolística. Como entrada para o prato principal, Inter X Vitória pela Copa Rio Sub 17. Jogos nessa categoria nunca são interessantes, é muita correria e pouca produção, mas não foi o que aconteceu na tarde. Os colorados sapecaram um pneu [6X0] fora o baile. Pudera, os Leãozinhos eram 96/97, dois anos abaixo da idade média do torneio. Não entendi o objetivo de levar uma equipe tão nova para um torneio tão forte tecnicamente. Se era para ganhar alguma experiência, parabéns. Os garotos estão experts em buscar a bola no fundo da rede.

Pois este sequer foi o jogo com mais tentos no menu. O prato principal, daqueles de abrir o apetite de qualquer cristão na quaresma, era o sempre palatável Barcelona. Um jogo com cara de favas contadas, face a vantagem conseguida no jogo de ida na Alemanha, mas onde difícil foi contar as favas, ou melhor gols, do trator catalão comandado por uma praga do bom futebol - “La Pulga”. Assistir ao embate em definição HD funcionou como remédio para minhas vistas cansadas, tive a nítida impressão de ver um quadro de Monet se movendo, se transmutando, as cores avivando, os pixels multiplicando e minha debilidade visual sumia enquanto era somatizada pelos defensores alemães, do goleiros à linha de cinco defensiva e mais os volantes e os atacantes que recuaram pra fechar os laterais, o que de nada adiantaria, e mesmo que a torcida do Bayer Leverkusen adentrasse as quatro linhas do Camp Nou seria engolida pela movimentação dos culés e pelos dribles objetivamente infernais do camisa dez. E que bom que ele é argentino! Pois se fosse espanhol os patrícios de Cervantes possuiriam o Santo Graal e reinariam no futebol moderno.

A partir deste momento já me sentia saciado de arte futebolística. Sim, poderia assistir mais dez VT’s de campeonato francês, ou quem sabe uns vinte compactos de segunda divisão marroquina, nada me aborreceria. Não cito o parelho campeonato cipriota, pois o Apoel é o novo Brasiliense europeu. Mas o que estava por vir era um deleite de sobremesa. Um manjar que poucos puderam usufruir instantaneamente devido ao imbróglio Fox Sports-Net-Sky. Nada que um bom link dando SOPA aliado a um cabo HDMI de boa extensão não resolva. Em dois cliques, Santos X Inter na tela do meu bunker.
Tem hora que o futebol é uma pintura

E se Neymar foi inspirado por Messi, possuído por Heleno de Freitas, bafejado por Ronaldo ou introjetou Pelé, pouco importa. Mesmo com a imagem bem menos nítida devido à transmissão via internet, juro que vi um quê de Portinari. Sim por que se Messi-Monet é impressionismo puro – impressiona, embasbaca, deixa uma impressão no vivente – Neymar-Portinari é um expressionista nato, pouco homogêneo, meio surrealista com uma pitada de cubismo, algo que surpreende às vezes a si próprio. “Não sei explicar o que fiz” responde tão intuitivamente frente ao microfone, quanto com a bola nos pés.

E arte não precisa mesmo de explicação. É pura fruição.

Joguei os óculos no lixo. Que se dane o astigmatismo.